Poucos prestavam atenção, em 2 de setembro de 1969, quando cerca de 20 pessoas se reuniram no laboratório de Kleinrock, na Universidade da Califórnia (EUA), para assistir dois computadores passando volumosos dados de teste sem sentido por meio de um cabo cinza, cujo comprimento era de mais ou menos 15 metros.
Vídeos divertidos não estavam na mente de Len Kleinrock e sua equipe da Universidade da Califórnia, quando começaram os testes daquilo que, em 40 anos, se tornaria a internet. Tampouco as redes sociais eram pensadas, ou a maioria de outros aplicativos cujo uso fácil atrai mais de um bilhão de pessoas on-line.
Em outro viés, os pesquisadores procuraram criar uma rede aberta para a troca livre de informações --uma abertura que, em última instância, estimulou a inovação que mais tarde iria criar sites como YouTube, Facebook e a própria World Wide Web.
Há ainda muito espaço para inovação atualmente --mesmo que a noção de "abertura" esteja ruindo. Embora a internet esteja disponível de forma mais ampla e rápida do que nunca, as barreiras artificiais ameaçam a continuidade do seu crescimento. Em outras palavras, uma crise de meia-idade.
Muitos fatores são culpados. Spam e ataques de piratas virtuais forçam os operadores de rede para erguer barreiras de segurança. Regimes autoritários bloqueiam o acesso a muitos sites e serviços dentro de suas fronteiras.
"Há mais liberdade ao usuário típico de internet para jogar, para se comunicar, fazer compras --mais oportunidades do que nunca", afirma Jonathan Zittrain, professor de direito e cofundador da Harvard's Berkman Center for Internet & Society. "Por outro lado, que é preocupante, existem algumas tendências de longo prazo que estão fazendo com que seja muito mais possível o controle [da informação]".
Retrospecto
A década de 1970 trouxe comunicações por e-mail e os protocolos TCP/IP --inovações que permitiram a conexão de várias redes e que, por sua vez, formaram a internet. Os anos 1980 deram origem a um sistema de endereçamento com sufixos como ".com" e ".org", aos endereços de rede, cujo uso é amplamente difundido atualmente.
A internet não se tornou uma palavra corriqueira até os anos 1990. Porém, depois que um físico britânico Tim Berners-Lee inventou a World Wide Web (subconjunto da internet que facilita a ligação de recursos por meio de posições diferentes). Enquanto isso, prestadores de serviços como o America Online colocaram milhões de pessoas conectadas, pela primeira vez.
A obscuridade ajudou com que a internet florescesse livre de restrições regulamentares e comerciais, que podem desestimular ou mesmo proibir experimentação.
"Durante a maior parte da história da internet, ninguém tinha ouvido falar dela", disse Zittrain. "Isso deu tempo para que ela se provasse funcional e criasse raízes."
Até mesmo o fluxo livre de pornografia levou a inovações na rede, como os pagamentos de cartão de crédito, o vídeo on-line e outras tecnologias, hoje bastante difundidas no uso geral.
"Ao permitir o acesso ilimitado, mil flores florescem", diz Kleinrock, o inventor da rede em 1969, que é professor da Universidade da Califórnia desde 1963. "Uma coisa que você pode prever sobre a internet é que você vai se surpreender com aplicativos que não esperava."
Esse idealismo, entretanto, está se dissolvendo.
A disputa entre Google e Apple mostra algumas dessas barreiras. A Apple, com seu iPhone, restringe os softwares que podem ser colocados no smartphone. Recentemente, a empresa de Steve Jobs bloqueou o aplicativo para o Google Voice, dizendo que ele é muito pesado para o iPhone. Céticos, contudo, sugerem que se trata de um movimento do Google para competir no serviço de celulares inteligentes.
Entre desktops, o governo dos EUA trabalha com o conceito de "neutralidade na internet". Na prática, significa que um provedor de serviços pode não trafegar certas formas de dados como outros.
Mesmo que os prestadores de serviços não interfiram ativamente com o tráfego, podem desencorajar o uso dos consumidores irrestrito da internet com limites no uso de dados mensais. Alguns provedores de acesso estão testando limites drasticamente mais baixos ---que poderiam significar um custo adicional para assistir a um filme on-line de qualidade.
"Você está menos propenso a experimentar as coisas", diz Vint Cerf, um dos fundadores da Internet. "Porque ninguém quer uma fatura surpreendente no final do mês."
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